Resumo da obra O Crime do Padre Amaro ─ Análise e Características
O resumo da obra O Crime do Padre Amaro demonstra a hipocrisia presente nas instituições religiosas e como ela pode afetar a vida dos fiéis. Neste post do Escritora de Sucesso, você vai conhecer a história do “O Crime do Padre Amaro” e compreender a crítica social realizada no livro.
Eça de Queirós é um autor português que publicou “O Crime do Padre Amaro” em 1875, ou seja, em sua fase realista. Como um romance realista, a narrativa é focada em pessoas comuns e não contêm as sutilezas presentes na escola literária do Romantismo. Dessa forma, podemos perceber a intensidade das relações humanas reais.
O que fala a obra “O Crime do Padre Amaro”?
Sinopse: O Crime do Padre Amaro retrata a corrupção moral dos membros do clero, contrapondo os mandamentos da Igreja Católica com os comportamentos dos padres descritos por Eça. A trama se centra sobretudo no romance proibido entre Amaro, padre jovem que chega à cidade de Leiria, e Amélia, filha da dona da pensão que o recebe.
Amaro é criado por uma baronesa que incentiva que ele seja padre, mesmo que ele não possua vocação para o ofício. Entretanto, a morte da baronesa muda a perspectiva do protagonista, já que ele passa a ser criado por um homem modesto que não tratava bem o jovem e decide ir para o seminário devido a boa vida que poderia levar no local.
Amaro era um homem cheio de luxúria, mas mesmo assim entrou no seminário. Assim como ele, muitos rapazes no seminário eram fogosos. Dessa forma, Amaro e outros seminaristas saíam a noite em busca de mulheres a fim de ter relações com elas. Com isso, podemos perceber que muitos seminaristas estavam naquele local pela boa vida e o status que a igreja proporcionava na época, não necessariamente pela vocação.
Com o seminário concluído, Amaro torna-se o Padre Amaro e é enviado para servir em Feirão, uma cidade pequena com poucos habitantes. No entanto, ele recorre a Condessa de Ribamar, filha da condessa que o criou, e ela consegue transferi-lo para a desenvolvida cidade de Leiria.
Em Leiria, Amaro conhece o contraditório Cônego Dias e vai morar na casa da religiosa Dona Joaneira, mãe da jovem Amélia. Para receber o novo morador da casa, Dona Joaneira faz um jantar em sua casa e convida o Cônego Dias e outras pessoas. Amaro e Amélia trocam olhares durante o evento e acabam se apaixonando.
Amélia é jovem devota e noiva de João Eduardo, um homem ciumento. João Eduardo começa a perceber a paixão entre o padre e a sua noiva. Com isso, ele escreve um texto denunciando a conduta dos padres em Portugal: eles se aproveitam sexualmente de moças jovens e devotas, incluindo o nome de Amaro no texto. Esta publicação gera um escândalo.
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Em qual ato específico consiste o verdadeiro crime do Padre Amaro?
A autoria da publicação é descoberta e João Eduardo vê seu mundo desmoronar: ele é demitido e Amélia desmancha o noivado com ele. Amaro saí da casa de Dona Joaneira e decide ir morar sozinho. Em um dia de chuva, ele e Amélia estão em sua casa e eles têm sua primeira relação sexual.
Para esconder o caso, eles começam a se encontrar na casa do sineiro. Com isso, o Padre Amaro comete o crime contra o juramento do celibato. Amélia sente-se muito culpada com o caso, mas continua se relacionando com o Padre. Entretanto, ela acaba engravidando dele e conta para o Padre, o qual propõe que ela volte para o antigo noivo para que ele assuma a criança. Mas, João Eduardo não está na cidade a muito tempo e o plano não funciona.
Amélia é enviada para uma casa afastada para cumprir sua gestação sem causar polêmicas. Na casa de Dona Josefa, a jovem é acusada pela anfitriã que acaba fazendo o seu parto. Com o bebê recém-nascido, Amaro decide entregar a criança para uma tecedora de anjos – a qual mata a criança. Após o parto, Amélia fica doente e acaba morrendo.
Amaro descobre a morte de Amélia e tenta resgatar o filho, mas não chega a tempo.
Qual a importância do livro “O Crime do Padre Amaro”?
O livro gerou uma enorme polêmica na época de sua publicação, já que ele aponta a hipocrisia da Igreja Católica em um país religioso como Portugal e em uma época ainda conservadora no país. Muito embora, a França estivesse vivendo um momento político de contestação do poder vigente com a Comuna de Paris. Dessa forma, compreendemos a diferença cultural entre dois países da Europa.
Com a denúncia, o livro foi criticado veemente pela Igreja Católica e o autor foi perseguido pela instituição.
A construção da personalidade de Amaro e sua colocação como protagonista do romance é uma estratégia usada pelo autor para trazer a complexidade dos indivíduos que faziam parte do clero. Visto que, conhecemos a vida de Amaro desde a sua adolescência e sabemos que ele não possui a vocação para o sacerdócio, mas como ele deseja ter uma boa vida: este é o caminho.
Com Amaro, começamos a desconfiar da vocação dos outros clérigos retratados na obra. Com isso, compreendemos como o status social que envolve a igreja é uma oportunidade de torná-la um ambiente permeado pela corrupção.
Trechos
Leia alguns trechos do livro “O Crime do Padre Amaro”:
“e já antes de fazer os seus votos desfalecia no desejo de os quebrar. E em redor dele, sentia iguais rebeliões da natureza: os estudos, os jejuns, as penitências podiam domar o corpo, dar-lhe hábitos maquinais, mas dentro os desejos moviam-se silenciosamente, como num ninho serpentes imperturbadas”.
“Estava agora habituado”, dizia. E como não ceava, e àquela hora em jejum, com a frescura cortante do ar, já sentia apetite, engrolava depressa, monotonamente, as santas leituras da Epístola e dos Evangelhos. Por trás o sacristão, com os braços cruzados, passava vagarosamente a mão pela sua espessa barba bem rapada, olhando de revés para a Casimira França, mulher do carpinteiro da Sé, muito devota, que ele “trazia de olho” desde a Páscoa. Largas réstias de sol caiam das janelas laterais. Um vago aroma de junquilhos secos adocicava o ar”.
(p.209) “- Se estou a falar sério!? Essa é forte! Pois eu havia de gracejar sobre um caso de excomunhão, minha senhora? Pergunte aí ao senhor cônego se eu estou a gracejar! (…)
Todos os olhos se voltaram para o cônego, essa inesgotável fonte de saber eclesiástico.
– Esta é a doutrina, concluiu dizendo; mas a mim parece-me melhor não se fazer disso espalhafato…
D. Josefa Dias acudiu logo:
– Mas nós é que não podemos arriscar a nossa alma a encontrar aqui por cima das mesas coisas excomungadas.
– É destruir! exclamou D. Maria da Assunção. É queimar, é queimar!
D. Joaquina Gansoso arrastara Amélia para o vão da janela, perguntando-lhe se tinha outros objetos pertencentes ao homem. Amélia, atarantada, confessou que tinhas algures, não sabia onde, um lenço, uma luva desirmanada, e uma cigarreira de palhinha.
– É para o fogo, é para o fogo! gritava a Gansoso excitada.
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